segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A Morte Devagar (Martha Medeiros)


Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias
contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo
trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não
arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não
podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim
alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas
que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma
vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos
nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos
olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não
arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja quem não lê quem não ouve música, quem não
acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença
séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso
não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma
boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva
incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um
assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando
ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco
tempo restante.

Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que
não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves
prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que
simplesmente respirar.

Pois é... me sinto assim, como se estivesse morrendo lentamente, sem forças pra tomar decisões que mudem a minha vida... sem conseguir levantar a cabeça e olhar pra frente... como estivesse num sono profundo... mergulhada em algum lugar... Chega!!! Acho que esta na hora de subir a superficie, vir a tona e viver!!!


1 comentários:

Varal das Artes disse...

Viver sem dúvida é
um desafi,
um perigo ,
uma deliciosa conquista diária e
um prazer quando se consegue exercitar o simples, o que é possivel o que temos e o que podemos querer...
Não podemos evitar o fim, mas podem fazer o caminho que leva a ele mais suave.
Parabens pela escolha do texto, aliás de todos os que vem postando e fico imensamente feliz em saber que decidiu vir a tona e se precisar de uma maozinha, to aqui ...
sempre.

Bjs
Ká Montone